Apresentação

Tema de pesquisa do grupo

Entre a venerável História Natural e a nova ciência da Biologia, despontam, na virada do século XVIII para o XIX, a Filosofia da Natureza, com uma reflexão sobre as formas e modalidades do ser vivo – organismo e mecanismo, necessidade e finalidade –, e a teoria da evolução, com sua narrativa da história da natureza como história da imbricação entre a sucessão das formas e as variações do mundo geológico indiferentes a elas. Essas vertentes remetem à filosofia e derivam, em maior ou menor medida, do idealismo de Kant e do sensualismo de Condillac. Encontram-se e colidem: Lamarck, Cuvier, Owen, Darwin, Haeckel. Para apreciar essa situação, recuemos. Com o Sistema da Natureza de Lineu e a História Natural de Buffon, o conhecimento dos seres vivos se torna indissociável de modelos e conceitos que, entre o transcendental e o empírico, permitem delinear uma ideia de vida, a um só tempo independente das marcações conceituais herdadas de uma tradição que remonta a Aristóteles e às voltas com problemas elaborados no interior dessa tradição. O pensamento contemporâneo, de Freud e Bergson à Fenomenologia, e do estruturalismo (Canguilhem, Foucault) ao pós-estruturalismo (Deleuze), recupera essas histórias naturais e filosóficas, projetando-as na história da metafísica, de seu fim e sua renovação: se a ideia de vida só é possível uma vez descartada a alma e sua dicotomia com o corpo, ela parece por si mesma insuficiente para dar conta de conceitos e fenômenos inéditos, que vão se perfilando no rastro da reflexão bifurcada da Seleção Natural e da Naturwissenschaft. O estudo desses problemas pode ser útil para desfazer alguns mal-entendidos relativos à natureza da metafísica atualmente vigentes na filosofia (e também na antropologia), que derivam do que chamaremos aqui de vitalismo irrefletido; e, ao fazê-lo, contribuir para uma renovação da reflexão filosófica sobre as possibilidades (e, portanto, também sobre os limites) da teoria da evolução como prática discursiva, determinando assim quais as suas condições de possibilidade, no horizonte da crítica e da eventual superação da metafísica.